quarta-feira, 25 de março de 2015

Relato de Parto - Jessica (mãe) e Ellie (bebê)

Morro de amores por essa profissão, Doula, que me escolheu pelos caminhos da tortos da vida! É bom demais entrar na vida de famílias diversas em um momento tão especial quanto a gestação e o parto de um bebê, um novo ser que chega de forma respeitosa e amorosa ao mundo e que com certeza terá as bases certas para mudar o mundo para melhor!

Sim, é romântico, é utópico e eu acredito mesmo na frase de Michel Odent: "Para mudar o mundo é preciso primeiro mudar a forma de nascer".

E depois de vivenciar esse processo, não tem presente melhor do que receber o relato de parto da Jessica, a primeira mulher que vi parindo naturalmente, sem intervenções desnecessárias, sentido prazer - e não dor - nos puxos e na descida da bebê e divando no trânsito de São Bernardo. Pois é, a Ellie nasceu no carro*! :D

Querem saber como foi essa história? Está ai o relato da Jessica para inspirar e espalhar as sementinhas do parto respeitoso! Boa leitura!

* ATENÇÃO: doulas não fazem parto. Inclusive, nem médicos e nem enfermeiras fazem parto. Quem faz parto é a mulher! Nesse dia, o tempo das contrações e os puxos "nos enganaram" e o trânsito de São Bernardo não contribuiu para que chegássemos à tempo na Casa de Parto. Acabou acontecendo um parto desassistido, que em nenhum momento esteve nos planos de Jessica. Porém, no dia anterior ela havia feito exames (cardiotoco, amnioscópio, dilatação, que mostraram que estava tudo caminhando muito bem, obrigada!) e estava muito empoderada depois de tudo o que estudou durante a gestação. Foi isso que nos deu tranquilidade para viver o parto desassistido e receber a Ellie com amor e respeito!

--------

"Oi gente, hoje faz quase um mês que a Ellie nasceu, e enfim consegui terminar meu relato, ta grandinho, mas não dava pra falar de uma experiencia sem mostrar o outro lado da coisa! Espero que gostem 
Emoticon heart

Essa historia é pras minhas meninas, para que possam ler um dia e saber o quanto elas mudaram minha vida! Obrigada por me escolherem como mãe!
Acho que devo começar pelo começo de tudo, eu com 14 anos, quando descobri a gravidez foi muito difícil pra mim, mas eu sabia que o mínimo que eu podia fazer era dar o melhor de mim pro bebe estava no meu útero, a gestação foi super tranqüila, fui pra escola até o ultimo mês! Quando pensava em parto, nunca pensei numa cesárea, nem sabia que isso era uma opção pra maioria das pessoas, não tive medo nenhum, só queria que chegasse logo. Até que passamos da DPP e ai começou a bater o desespero, fizemos 40 semanas, 41... E eu não sentia nem uma contração de treinamento. 

Com 41s+4d o GO resolveu me internar pra induzir o parto, UFFA! Até que na hora da internação não deixaram nem o Leandro (meu namorado) e nem minha mãe ficarem comigo. Demorou bastante pra indução começar a fazer efeito, mas quando começaram as contrações já vinham bem fortes e próximas, exame de toque e cardiotoco a todo o momento e eu assustada, chorando quietinha com medo das reclamarem de barulho! Por alguns momentos pensei que preferia morrer a passar por aquilo, sozinha numa sala escura... Uma hora me levaram pra sala de parto, me colocaram numa posição estranha a meu ver (litotomia), me mandaram fazer força, me cortaram, empurraram minha barriga e quando enfim ela nasceu levaram ela de mim sem nem me mostrar o rosto dela, sem eu sentir seu cheiro, seu calor. Depois de me costurar e de provavelmente fazerem todos os procedimentos do protocolo com a minha filha me entregaram ela, num corredor gelado e com luz forte, minha pequena Sophia, me desculpe por tudo isso, eu sinto muito mesmo, queria muito voltar no tempo e te dar um nascimento digno, foi tudo tão frígido, se eu fiquei com tanto medo imagino como você ficou né filha, que estava lá tranqüila e quentinha na barriga da mamãe... Espero que você saiba que eu sempre fiz o meu melhor, mas eu era uma criança ainda e não sabia de muitas coisas, desculpe!

Se passam 4 anos e a danada da menstruação resolveu atrasar, eu já senti que estava grávida, falei pro Leandro, que me mandou parar de ser boba porque com certeza não era nada, passaram mais uns 10 dias, ele topou fazer o exame, que é claro, deu positivo, nenhum surpresa pra mamãe. Ficamos animados apesar de não estarmos planejando aumentar a família, era um momento nada bom financeiramente, mas depois de primeira experiência aprendi que pra tudo agente da um jeitinho, comecei o pré natal no SUS e resolvi me informar mais dessa vez, comecei a ler sobre gestação, partos, até que de algum jeito cheguei no mundo da humanização, me encantei com os relatos que fui encontrando, assisti O Renascimento do Parto, descobri que parir não era aquilo que eu tinha passado, que aquilo tudo tinha sido violência obstétrica, que me arrancaram minha filha e não estava na hora dela ainda! 

Jessica, diva parideira, e Ellie aproveitando
 ao máximo a vidana barriga da mamãe!

Eu queria muito parir, sentir o que era uma contração natural, eu precisava sentir o nascimento dela, precisava sentir a vida e não tinha dúvidas de que era capaz disso, queria que minha filha fosse recebida no mundo com todo amor que merecia, queria que ela soubesse o quanto é amada e que a mamãe esta aqui, desde o começo, pra dar amor, carinho, colo e proteção. Eu sabia também que apesar de querer tudo isso, não bastava querer, eu tinha que correr atrás e me informar muuuuito. A idéia de um parto domiciliar me agradou muito, mas apesar de não ser tão caro quanto eu esperava, eu não poderia pagar no momento!

Passei alguns meses pesquisando, encontrei uma doula, mas não era ela a pessoa certa pra em acompanhar nessa jornada. Continuei minha busca, até que um dia conheci uma fada, ela me chamou pra ir num grupo de gestantes pra conversar um pouco, eu me encantei, ela era maravilhosa, era ela quem eu precisava pra me acompanhar nisso, e aí bateu aquela tristeza pois não teria como pagar, mas como eu disse ela é uma fada e me ajudou desde o começo a realizar meu sonho, minha querida doula e amiga Raquel se ofereceu para me acompanhar voluntariamente, nunca terei palavras pra agradecer por toda ajuda que me deu. 

Decidi que ia parir na Casa de Parto Sapopemba, Raquel me ajudou a desenvolver meu plano de parto e eu estava pronta, de corpo e alma eu sabia que era capaz. Então foi só esperara hora da Ellie, conforme a DPP foi se aproximando a ansiedade foi batendo, queria minha menina em meus braços! 
Escrevi uma carta pras minhas meninas, chorei diversas vezes por saber que quando a Ellie nascesse a Sophi não seria mais meu único bebe, que minha atenção não seria só dela, mas a Sophi é tão maravilhosa que sempre me mostrava que estava pronta pra isso, conversava com a barriga todos os dias, cantava musicas pra irmã... Passamos alguns dias na praia na casa da minha mãe pra relaxar um pouco, deixar meu corpo se preparar, comecei a sentir contrações de treinamento com mais freqüência. A cada dia que passava ficava mais introspectiva, só queria meu marido e filha perto de mim.

Dia 22/02 a Raquel passou em casa e deixou a bola de pilates, velinhas e varias outras coisas pra eu ir me preparando, sabíamos que estava chegando a hora, a Ellie estava me mandando os sinais. Dia 24 as contrações estavam ficando mais ritmadas mas ainda não muito doloridas, Raquel e minha mãe vieram pra minha casa, parecia que o TP estava começando, será?! As horas foram passando e as contrações não paravam, minha mãe levou a Sophi pra casa dela, Raquel ficou comigo, fomos caminhar e bater um papo delicia, as contrações ficando mais próximas, voltamos pra casa quase meia noite, resolvi tomar um banho e descansar um pouco e ai as contrações simplesmente pararam. No dia seguinte tive consulta pela manhã, tinha 3 ou 4 de dilatação, mas não estava sentindo nada, Raquel foi pra casa descansar e eu passei um dia super tranqüilo com o marido, durante o dia tive varias contrações beeeem mais doloridas, mas a noite pararam de novo!

Dia 26, no dia que completei 41 semanas, as 5h da manhã acordei com uma dor do caceeeete, sério, foi um susto, doía demais, contei o intervalo entre as contrações e já estavam de 5 em 5 minutos as vezes menos, avisei a Raquel e o Leandro, que não queria acordar, eu gemendo de dor na bola e ele pedindo pra eu ficar quieta pra eu poder dormir mais um pouco, queria matar o infeliz! Hahahhah

Depois de um tempo o Leandro levantou, tomou um banho, fez seu café, tudo na maior tranqüilidade, nesse ponto eu já não conseguia mais contar o intervalo entre as contrações, não tinha mais posição confortável, passei de gemer pra urrar de dor, queria desistir, que historia de parto humanizado é essa que eu fui inventar?! Alguém me ajudaaaa! Hahahahah

O cheiro do café me invadia, o Leandro me ajudou fazendo massagens e eu fui aprendendo a lidar com a dor. Raquel chegou em casa, não tenho idéia de que horas era, acabei perdendo muito a noção do tempo, as contrações estavam muito próximas, eu queria uns minutos pra respirar, pra descansar, mas não dava... As mãos da Raquel pareciam mesmo anestesia, aquelas massagens foram dos deuses! Acho que eu não conseguia falar com eles, só chamar seus nomes quando vinham as contrações e um deles não estava por perto, queria chorar, mas nem isso eu conseguia! O Leandro me deu muita força, seu toque foi maravilhoso, ele não precisou dizer nada, alias ninguém precisou, tudo estava fluindo naturalmente, o gosto do café na boca dele estava maravilhoso!
Acho que começaram a falar de ir pra casa de parto mas eu não queria ir, estava tão bom ali, tentaram me vestir mas sem sucesso, tentei me levantar pra ir logo pro carro mas acabei de jogando no chão no meio de uma contração, não queria sair dali de jeito nenhum e aí senti o primeiro puxo, uma felicidade me invadiu, minha filha estava chegando! Percebi que estava próximo da hora de nascer e então fui logo pro carro.

Fiquei de joelhos de banco de trás, não pensei no porque, ou o que seria mais confortável, só deixei meu corpo fazer o que achava melhor. E a cada puxo vinha aquela imensa vontade de fazer força, minha pequena estava tão próxima, conseguia sentir ela subindo de descendo, já não sentia mais dor alguma, era só prazer, emoção, espero não esquecer aquela sensação nunca, foi bom demais! Veio o circulo de fogo e eu avisei a Raquel e logo eu já conseguia sentir sua cabeça na minha mão, era como se não houvesse nada nem ninguém a nossa volta, era só eu e ela, ela estava vindo pra mim, em um dos puxos veio sua cabecinha, Raquel me ajudou a mudar de posição e no próximo puxo a bolsa estourou, foi água pra todo lado e seu corpinho escorregou, Raquel a amparou e me entregou, e la estava ela, tão pequena, tão perfeita, tão linda! “Não chora pequena, a mamãe esta aqui, eu te amo!” 
Que pele gostosa, que cheirinho bom... 

Minha Ellie chegou no seu tempo, era exatamente 7:36h, sim tudo isso aconteceu em só 2 horas e meia, o Leandro nos levou até o HMU, o hospital plano B, pois a casa de parto ainda estava muito longe, no hospital tudo correu bem, não tiraram ela de pertinho de mim nem um minuto, deixaram ela mamar bastante no meu colinho, respeitaram as minhas vontades.

Agora todos me perguntam como foi parir no carro, na verdade acho que nem me dei conta de que estava no carro, podia estar em qualquer lugar, não importa, quando minha filha decidiu que era hora de nascer ela veio, e eu estava longe demais pra perceber balanço do carro, transito ou gente olhando, só tinha eu e ela, minha Ellie, obrigada filha, por me dar a melhor experiência da minha vida, sabia que parir podia ser diferente, mas não sabia que podia ser tão gostoso, já queria de novo!"

Um comentário:

  1. Tentei entrar em contato c vc Raquel, pelo telefone cadastrado mas não.consegui. Tem.outro numero?

    ResponderExcluir

Gratidão por comentar! :)