quinta-feira, 30 de abril de 2015

Relato de Parto - Thais (mãe) e Miguel (bebê)

A lembrança daquela noite fria e de garoa ainda reverbera em mim!

"Vem que as contrações estão cada vez mais fortes...". No caminho, com meu marido me levando até o hospital, ouvi Alceu Valença nem sei quantas vezes, cantando baixinho, confirmando que o Miguel estava dando "os seus sinais", meditei e juntei forças para atender o parto de mais uma diva parideira!

No fim, virou tudo de ponta cabeça, os planos não resistiram à realidade e o Miguel veio como tinha que vir: rodeado de respeito e carinho. Depois daquele dia, renovei as esperanças de que algumas pessoas estão fazendo a diferença no atendimento obstétrico no SUS, no ABC. E confirmei minha admiração por Thais, essa mulher tão feminina, delicada, perseverante e guerreira!

Querida, você merece todo apoio, empatia e admiração dessa doula aqui, que só faz agradecer por termos nos cruzados nesses caminhos doidos da vida! Eu agradeço, eu agradeço, eu agradeço!

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"Demorei um pouco, devido as mudanças na rotina, a minha adaptação a nova vida, e minha recuperação pós parto! Mas aqui está o relato do nascimento do Miguel! Não deu pra falar só do nascimento, sem contar alguns detalhes da gestação! :

É muito difícil escrever tudo o que senti, na verdade não tem como, o sentimento é único e muito intenso, que não tem uma descrição!
Tudo começou em Julho de 2014 pensei que estava com uma gastrite atacada, nada parava no meu estomago e sentia muita ânsia. e então em um belo sábado de manhã dia 26/07/2014, fui escovar os meus dentes e BLAAAAH!


Pensei no suco de maracujá que tinha tomado no dia anterior, que o Michael disse que estava estragado, mas no fundo achei muito esquisito!



Fui ajudar minha amiga Mariana no box de óculos dela, contei o que aconteceu e ela disse pra eu fazer um teste de gravidez, minha mãe disse: "Você tá grávida!" .. Mas toda vez que eu vomitava minha mãe dizia isso, então nem levei em consideração.. 

E eu tomava remédio, então pra que se preocupar?

Fiz o teste por desencargo, deu positivo! Paralisei no banheiro até a Mari ir ver se tava tudo bem, fiz o segundo teste POSITIVO! E ela disse: "Parabéns mamãe"

Meu mundo desabou, fiquei desesperada, estávamos com reforma na casa, prestes a nos mudar e começar nossa vida a dois, e agora vamos ser 3?
Pensei que ficaria sozinha, que ele não aceitaria, não fazia nem 3 semanas que ele havia dito que só queria filhos daqui 10 anos. Dei risada ao me lembrar. Fumei um maço de cigarro até o fim da tarde! 

Desespero, medo, e felicidade, talvez fosse o que senti naquele dia! Os dias, as semanas e os meses foram passando a barriga crescendo, e o amor que eu sentia por ele só aumentava. Descobrimos que era um menino, e eu já sabia o nome: Miguel.Não teve outra opção pra mim, era esse o nome que queria pro meu filho, desde o início. Cada ultrassom, cada chute, cada cardiotoco, cada mexida, uma emoção!

Até que comecei a ficar muito fraca e a passar muito mal, minha anemia esferocitose, uma doença um pouco rara se agravou na gestação e com 5 meses tive que fazer uma transfusão! Comecei então a estudar sobre os tipos de parto, pois estava com medo de como o Miguelinho viria ao mundo, e havia a preocupação da perda de sangue no parto.


Com 7 meses tive que fazer outra transfusão para estar preparada para o parto. E então entrei em uma gravidez de alto risco! E fui buscar mais informações ainda sobre o parto que eu queria! Resolvi que queria um parto natural, um parto humanizado, respeitoso! Queria que o Miguel viesse da forma mais natural possível, assisti o documentário "O Renascimento do parto", me apaixonei pela forma que aquelas mulheres pariram e resolvi que era aquilo que eu queria, não foi fácil aguentar os burburinho! Realmente as pessoas não entendem as nossas escolhas, e acham que podem escolher por nós.


O meu marido ficou ao meu lado e me apoiou na minha escolha, e era do apoio dele que eu precisava nesse momento. As mulheres de hoje estão muito acomodadas com a cesárea, onde marcam a data e tiram seus bebês sem esperarem o tempo dele. E muitas dessas me estressaram muito na gestação, por falarem demais e me apoiarem de menos.

Depois da segunda transfusão, tive que começar um pré natal de alto risco no Hospital da Mulher, onde eu ia ganhar o Miguelinho, aproveitei e fiz um curso de gestante também por lá, para saber mais sobre o hospital, e os procedimentos, já que lá é um hospital humanizado, que dá total preferência ao parto normal.


Descobri que lá eu poderia ter o acompanhamento de uma Doula se eu quisesse, e eu queria muito, mas achei que o hospital não aceitava. Saí de lá a procura de alguma que eu sentisse que era ela que queria comigo, no meu pré parto, durante o parto e o pós parto!


Conversei com algumas, contei toda a minha historia, pesquisei e procurei, até que achei a Raquel, uma "anja" que ajudou muito o meu dia a dia, com 36 semanas, encontrei, UFA! E foi sensacional, teve uma sintonia maravilhosa.


Com 38 semanas comecei a ter contrações de treinamento, e comecei a treinar os exercícios que ela passou pra mim e pro Michael! Com 38 semanas também mudei de casa, achamos um lugar ótimo, e o Miguel teria o quarto dele, não cabia tanta felicidade dentro de mim! Entre contrações, caixas de mudanças, móveis sendo montados, e mudança de lua, achei que ele viria naquela semana, sqn. Ele queria esperar mais um pouco.


Fomos nos adaptando a nova casa, dancei muito com ele dentro de mim, conversei, massagiei, meditei junto com a Raquel, e aproveitando cada minuto da minha barrigona sempre (que sinto falta rsrs). Tirei muitas fotos para guardar aquele momento. 


Fiz 39 semanas e nada de Miguel, já não aguentava mais as mensagens de todos perguntando se ele não ia nascer, não aguentava as cesaristas de plantão, "Ai tira logo ele, você deve estar cansada". OOOOOI?  Gente, cansada a gente fica, mas eu pelo menos amava estar grávida, eu engordei 16 Kg, e nunca me senti tão linda, quanto na gravidez, eu amava até minhas celulites.

Com 40 semanas e 3 dias dia 20/03 fui ao hospital fazer o exame do coração do neném, o cardiotoco. No caminho comecei a sentir algumas contrações, mas não disse nada a minha sogra pois não sabia se elas pegariam ritmo, e não estavam doloridas. Cheguei ao hospital, com a demora elas começaram a ficar ritmadas e comecei a ficar preocupada pois eu queria estar em casa no primeiro estágio do TP (Trabalho de Parto). Como eu e o Michael havíamos planejado, junto com nossa doula.


Passei com um ogro de um médico grosso que fez um exame de toque em mim que me machucou muito, estava com 2 cm de dilatação. Quando sai da sala dele comecei a sentir dor, muita dor e então senti algo querendo sair, fui ao banheiro era o tampão, aquela coisa gelatinosa com sangue, e aí as contrações ritmaram de 5 em 5 minutos, e estavam doloridas. Fui finalmente depois de 2 horas fazer o exame, e as contrações vindo.

Acabou o exame e elas estavam de 3 em 3 minutos e pediram para repetir o exame, pois o batimento estava fraco, mas naquele momento não dava pra ficar deitada pra fazer, NÃO DAVA! Nem sentada, eu precisava me mexer. E aí quiseram me dar janta, GENTE.. contração com arroz feijão e bife, NÃO COMBINAM. Lógico que vomitei!

E então percebi, as contrações estavam de 2 em 2 minutos e tudo que eu queria era que meu marido e minha doula chegassem logo, pois ali percebi que não voltaria mais pra casa, é.. o Miguel ia nascer. A enfermeira obstétrica notou o intervalo de minhas contrações e foi me tocar eu ainda estava com 2 cm. O QUEEEEEE??? Eu queria desistir. Eu chorava, eu berrava, eu ria, eu socava as paredes, eu dançava, só não dava pra ficar parada!

Meu marido chegou, que alegria, ele sabia os exercícios e massagens que nossa doula nos ensinou para esse momento, e então tudo parece que ficou mais bonito, ele comigo, me ajudando em cada contração. Curtindo cada momento.

Tinha hora que eu pedia me abraça e me aperta, outras eu queria que ele não encostasse em mim. Era a Partolandia, é incrível. Você não tem controle, faz o que seu corpo pede, e eu conversava com o Miguel, e isso me tranquilizava. 

A Raquel chegou e não conseguiu entrar tão rápido, mas conseguimos fazer alguns exercícios, e então resolveram que eu subiria pra sala de parto!
UFA vou poder tomar banho, e usar a bola, a barra, o cavalinho, fiquei super feliz, e mais calma! Pena que não foi assim! Aquele 1 min de intervalo entre as contrações, parecia que eles não existiam mais. Eu sabia que doía não sabia que era quase insuportável, isso que não senti a metade do que queria sentir.
Eu queria sentir, por mais que eu quisesse algumas vezes desistir, quando a dor passava eu pedia: NÃO ME DEIXEM DESISTIR!

Foi então que cheguei na sala de parto e a médica veio falar comigo, e tudo mudou! Ela falou: "Mãe, vou te mostrar o resultado de exame do seu bebê e de outro bebê." E então ela explicou: "Esse é o coração de um bebê saudável, esse é o coração do seu bebê". Entrei em choque! E ela continuou: "Você está com só 3 cm, suas contrações estão com um intervalo muito pequeno, e o batimento do seu bebê mostra que ele está em sofrimento, eu indico você já ir pra sala de cesárea!"

Acabou, meu mundo caiu, nada do que planejei estava acontecendo, como eu queria sentir ele nascer, como eu queria parir! E então achei que se eu fosse eu seria má, mas não queria que ele sofresse! Ela falou que eu tinha a alternativa de fazer outro cardiotoco, e que ela romperia minha bolsa, mas que não iria adiantar muito e podia apenas atrasar a cirurgia e deixá-lo mais tempo em sofrimento na barriga, MAS seria uma escolha minha.


PQP não queria que rompesse minha bolsa artificialmente, não queria deixá-lo em sofrimento, mas não queria fazer cesárea. Pensei muito nos médicos cesaristas, que enganam mães para fazer logo uma cesárea, mas também eu sabia que lá eles priorizavam o parto normal, e que realmente só faziam cesáreas em último caso, quando a mãe ou o bebê corriam risco de vida! E foi então que ela disse: "Você pode fazer isso logo, ou correr o risco, a opção é sua".


Eu e meu marido, não queríamos cesárea, queríamos parir juntos, mas o medo de perder nosso pequeno tomou conta de nós, a minha gravidez de alto risco não me permitia demorar muito para escolher! E então aceitei a cesárea! Nos preparamos, e fui para a sala de cirurgia! Nessa hora minhas contrações não tinha mais intervalo! Quando cheguei na sala, uma contração bem forte e um PLOFT.. minha bolsa estourou! Cheia de mecônio dentro, já estava espesso, bem grosso e verde. O medo tomou conta de mim, eu não queria estar ali, e chorei muito.


Como é ruim aquela anestesia, você não sente nada, nem a sua bunda! É horrivel! Parece que demorou uma eternidade, mas sei que foi rápido. Tudo começou umas 17h30 e quando foi 1h14 com 2.780 Kg e 49,5 cm Miguel veio ao mundo. Não me mostraram ele logo que nasceu, eu não consegui vê-lo nascer como eu queria, o Michael não pôde cortar o cordão dele, pois ele precisou de oxigênio assim que nasceu. É nada foi como planejamos! Como eu chorei. Foi um turbilhão de sentimentos!

Havia tristeza por tudo o que estava vivendo, e muita alegria por ter chegado a hora dele! E quando o vi pela primeira vez, chorei de felicidade, de amor, de emoção, e tudo de ruim que estava sentindo acabou! Eu o senti pela primeira vez fora de mim, que delícia, que alegria, quanta emoção! Ali me tornei mulher de verdade, me tornei MÃE!


E que sensação incrível, ele pode não ter vindo como eu queria, como eu planejei, e como eu havia me preparado. Mas ele veio, e com saúde, e isso que me importa! Eu esperei o tempo dele, eu senti a emoção da Partolândia, me senti uma leoa durante as contrações, senti algumas das dores do parto normal, senti a dor do parto cesárea, e hoje tenho meu filho nos meus braços!
E o amor que sinto por ele aumenta a cada dia.

Eu nasci de novo, eu o fiz, gestei, não o pari. Mas ele nasceu em boas mãos, pois eu confiei a vida dele àquela Doutora que foi um amor e me tranquilizou o tempo inteiro, naquela sala de cirurgia. E para a minha alegria, e a do meu marido, nosso filho chegou. Minha vida mudou. Antes eu era apenas a Thais, agora eu sou a Thais mamãe!

Miguel nós amamos você!
Obrigada a todos que participaram desse dia maravilhoso, e viveram comigo todas as emoções que senti! E agradeço a Deus por permanecer ao meu lado, durante toda a minha gestação, desde o primeiro dia, ao nascimento do Miguel!


Obrigada pelo melhor presente da minha vida.