terça-feira, 4 de novembro de 2014

Sobre o conviver em rede e parcerias de vida!

Uma questão que venho aprendendo desde que mergulhei de cabeça nesse lindo mundo da humanização do parto e da vida é a necessidade de viver em rede. 

A frieza de um organograma...
Infelizmente, vivemos em uma cultura patriarcal e autocrática que nos doutrina a enxergar o mundo como um frio organograma. Para alcançar aqueles que estão acima de nós (obstetra/hospital, professor/escola, chefe/instituição e assim vai) é preciso percorrer um longo caminho... e quem está ao nosso lado, bem, eles estão nessa peleja também e acabam virando concorrentes. Quem está abaixo, enfim, não importa. O que importa é o objetivo, o topo.



... ou a infinita rede de possibilidades de interações?
A partir do momento que você cai em si (e olha que a queda é feia e dolorida!!), percebe que essa visão é equivocada, uma construção social que vem se perpetuando de geração em geração, no piloto automático. Na verdade, a tendência dos seres vivos, da vida em geral é a convivência, a troca profícua de saberes, sem intermediários, ao contrário do darwinismo social em que nos emaranhamos. A vida, em nível celular, orgânica e sistêmica, acontece à base de trocas, de redes.

Bom... todo esse preâmbulo para anunciar que esse humilde espaço na rede está aberto para parcerias, para unir no lugar de segregar. Para somar e multiplicar em vez de dividir e subtrair.

Inauguro a parceria com o texto visceral da querida Elisangela Alberta de Souza, mãe de três filhos lindos, que procura transmutar a dor de dois partos roubados (e um conquistado na unha) levando adiante a semente da necessidade de tomar as rédeas da própria vida nas mãos. Sem mais delongas, aí vai o texto! :)

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PD-Coragem de ir contra o sistema, cultura e crença

Publicado originalmente em 29 de maio de 2013, no Facebook da Elisangela!
Ter um parto domiciliar aqui no Brasil não significa ter coragem, a coragem esta em desafiar o sistema. Acreditamos que o parto é algo grave e imprevisível e precisa estar no controle dos médicos. Infelizmente  a idéia que  tem sido passada a nós mulheres (que nossos corpos são defeituosos), levou o sagrado  feminino, evento fisiológico e sexual,  a ser observado e intervencionado por médicos. A mulher deixou de ser protagonista do evento mais lindo e importante da sua vida. 

Escolher parir em casa, não é um ato corajoso, é justamente o contrário: medo de passar por todo tipo de intervenção desnecessária, pois infelizmente as mulheres e seus filhos não são tratados com individualidade nas instituições, que, trabalham como em linha de montagem, agindo tecnocrática e mecanicamente, cumprindo os protocolos e rotinas até nos casos que não necessitam de intervenção. 

Ir para o hospital sabendo que você terá um acesso venoso  para administração de hormônios e/ou medicamentos que você não conhece e nunca ouviu falar, sem o seu consentimento, além da ocitocina, que é um hormônio sintético que promove a elasticidade e contração causando muita dor e em quantidade inadequada pode até causar o rompimento do útero, ficar horas sem comer, sem poder se movimentar, não poder se expressar livremente e na maioria das vezes não podendo ter um acompanhante da sua livre escolha, sendo observada e tocada nas suas partes íntimas por pessoas diferentes e estranhas, e ainda:  

- Amniotomia (Ruptura  artificial e intencional das membranas  para induzir o parto);
- Distenção do períneo feita com as mãos do profissional de assistência (que nessas condições de trabalho de parto não será nem um pouco agradável, será apenas mais uma forma de violência obstétrica);
- Manobra de Kristeller (subir na barriga da mulher empurrando o fundo do útero para que o bebê "saia" mais rápido);
- Episiotomia, corte feito no períneo, desnecessária, pois se o TP for natural, sem intervenção, o organismo se encarrega de providenciar os hormônios na medida para que cada ação seja feita pelo próprio corpo.  

O bebê gerado, amado e esperado com  carinho e ansiedade será - não importa se nasceu bem ou não - aspirado, terá sonda sendo introduzida em praticamente todos os orifícios do corpo, além do colírio de nitrato de prata (que só é recomendado em casos de nascimento por via vaginal em mulheres com gonorréia ativa) causando ardência, dor e uma conjutivite química, a qual impedirá o bebê de reconhecer a própria mãe. 

O  bebê não terá  o primeiro contato extra-útero com a mãe ao nascer para que a troca de cheiro e hormônios possa dar início ao vínculo, facilitando a amamentação, estimulando o reflexo de sucção, já que na primeira hora de vida esse reflexo é mais apurado. E o corte prematuro do cordão umbilical, desperdiçando sangue que lá na frente poderá fazer falta, pois existem estudos que provam: apenas 3 minutos de vida fora do útero ligado ao cordão é suficiente para evitar deficiência de ferro (anemia) na primeira infância. Basta o cordão parar de pulsar,  um sinal de que o ar já encheu os pequenos pulmões. 

Permitir-se ter um parto lindo e mágico, é deixar a natureza agir. Todo parto deveria ser assim, seja em ambiente hospitalar ou em ambiente doméstico mas, infelizmente, entendemos que o parto é um evento médico, e a maioria das mulheres acaba numa mesa cirúrgica para fazer a extração fetal, as "desneCesáreas", que causam muita dor na parturiente e stress no bebê. Quando nasce um bebê com baixo índice de Apgar todos dão graças a Deus pela "cesárea salvadora", e acreditam que o bebê havia "passado da hora" ignorando que o sofrimento fetal fora causado pelo excesso de intervenções. 

Num parto sem perturbações, o próprio organismo humano se ocupa de produzir analgésicos (beta-endorfinas) que aliviam as dores do parto, ou de atingir um pico de ocitocina que previne hemorragia pós-parto
Num parto sem perturbações, o próprio organismo humano se ocupa de produzir analgésicos (beta-endorfinas) que aliviam as dores do parto, ou de atingir um pico de ocitocina que previne hemorragia pós-parto

Cinquenta por cento de cesáreas salvadoras no Brasil?! Sendo que só na rede privada esse índice chega a 90%. Isso não é salvação? É uma forma de incapacitar mulheres e mães de serem donas dos próprios corpos, subestimando e desencorajando para uma maternidade ativa. Os estudos mais recentes em países onde o parto domiciliar é  custeado pelo sistema de saúde provaram que a assistência por parteiras (Enfermeiras Obstétricas, e Obstetrizes) tendem a acontecer com o mínimo de intervenção. A Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Biblioteca Cochranne (coleção de fontes de informação com base em evidências científicas) recomendam partos assistidos por parteiras. 

Então não há motivos para que uma gravidez de risco habitual se torne uma gravidez de risco durante o TP. Isso é o que acontece quando na evolução para o parto os planos mudam e a mulher é "cesareada" para diminuir os riscos. Isso quando a cesárea não é agendada por conveniência médica e/ou da família, o que torna o evento do nascimento ainda mais perigoso, pois se o trabalho de parto ainda não chegou é sinal de que o bebê ainda não está pronto para nascer.

Muitas pessoas usam o fato de estar com mais de 38 semanas para marcar a cesáreana, sem serem informadas de que a gravidez pode se estender até 42 semanas ou mais. Para que isso aconteça é preciso que haja uma boa assistência, humana e preocupada com o bem estar do binômio mãe-bebê. 

O nascimento seria um evento mágico e simples se entendêssemos a verdadeira dimensão do nascer e se quiséssemos mesmo ser protagonistas e donas do nosso destino.

O medo da dor, o medo do parto ou de ter suas partes íntimas danificadas com o parto normal, são medos infundados e têm mais relação com a cultura e crença do nosso país de cultura machista e patriarcal quem vem sendo perpetuada de geração em geração, inclusive por mulheres.

Mulheres bem resolvidas e informadas, tendo uma boa assistência podem ter sim um parto emocionante, em que não só darão a luz a uma vida a mais nesse planeta, mas darão a luz a si mesmas, pois não ter consciência do próprio corpo e de seu sagrado feminino, de seu próprio poder enquanto fêmea e mamífera, é viver na escuridão.

Para uma pesquisa com referencias científicas
acesse o link http://guiadobebe.uol.com.br/sistema-hormonal-do-parto/

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