Foi uma alegria imensa acompanhar desde o comecinho a trajetória dessa mulher em busca de informação e empoderamento para ter o seu tão sonhado parto respeitoso, amoroso e mamífero! Foram horas muito intensas e felizes, cheias de carinho e muitas risadas (o humor da Márcia é incrível.... foi meu primeiro parto com stand up mom... rs), presenciando a natureza agir com toda sua força e energia para que a Lorena viesse ao mundo da forma mais bela, natural e respeitosa!
Sem mais, fiquem com o lindo relato de parto e nascimento dessa nova família!
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Chegou a minha vez de relatar meu tão sonhado parto.
Pari. Simplesmente tornei-me uma fêmea, mamífera e segui meus instintos. Fiz o que meu corpo pediu, exigiu e implorou. Segui em frente em todos os momentos, mesmo quando duvidei do processo de dar a luz.
Depois de 38 semanas e 3 dias de uma gestação calma, zen, reclusa e natural, às 16:00h do dia 12/10, antes de entrar no banho, senti o tampão mucoso se desprender com algumas gotas de liquido amniótico. A principio não acreditei que fosse entrar em trabalho de parto. Juro que estava esperando que Lorena fosse chegar por volta da 41ª, 42ª semana...não sei porque. E também não acreditei que aquelas gotinhas eram realmente liquido amniótico. Estudei bastante durante a gestação, mas confesso que quando as coisas começaram a acontecer, eu não soube reconhecê-las. Estava entrando em um processo tão único de conhecimento do meu próprio corpo, que me deparei com eventos fisiológicos e sensações físicas e psíquicas que nunca havia experimentado, por ser a Lorena minha primeira filha.
Então a bolsa havia rompido. Pensei comigo que poderia ser apenas o descolamento do tampão, e como havia lido que este pode se regenerar diversas vezes, não me preocupei. Mas algo dentro de mim, meu lado instintivo, me fez tomar banho com um sorrisinho diferente no rosto...
Estava com todo esquema pronto. Meu grupo no whatsapp composto pela minha doula, uma enfermeira obstétrica e três obstetrizes, estava sempre a postos para responder as minhas duvidas e aguardando o aviso de inicio de trabalho de parto. Expliquei o que havia acontecido e ainda bem descrente, segui o conselho do grupo, de descansar e me tranquilizar. Mentira! Mesmo ninguém sabendo ainda se o trabalho de parto iria engrenar, e mesmo tendo recebido conselhos para descansar e guardar energias, foi impossível conter a ansiedade. Meu coração disparou e assim permaneceu por horas...minha ficha estava caindo aos poucos, assim que comecei a sentir leves e irregulares cólicas.
Apesar de já estar imersa nos pródromos, não contei ao meu marido o que havia acontecido. E se não fosse nada? E se ele ficasse tão nervoso que destruísse meu plano de parir em casa? Esperei até umas 19h, 20h para contar a ele.
Resumindo este momento, ao saber que o tampão havia saído e eu já estava sentindo cólicas, Mario ficou algumas horas sem reação. Olhava para a tv sem piscar, sem mudar de canal, sem olhar para mim, sem se mexer...apenas respirava...e eu comecei a me sentir ofendida...Eu estava esperando que ele tomasse a iniciativa de mudar o clima, acender as velas, os incensos, colocar os mantras, ajeitar o ninho. Mas acho que ele estava muito chocado para pensar nisso. Então lã fui eu...levei meu cobertor para a sala, apaguei a luz direta, liguei a luminária, acendi incensos e velas, coloquei mantras no TuneIn Radio e tentei relaxar.
Continuei muito ansiosa. Além das leves e esparsas cólicas, só sentir meu coração acelerado. E não conseguia pensar muito. Estava já me conectando com meu corpo sem me dar conta.
Passaram-se as horas, a noite, a madrugada e por volta das 05h minha doula chegou. Que alivio. Estava mesmo em trabalho de parto. Quando ela chegou, senti segurança. Doula é amor e alivio, com certeza!
A partir de agora, não faço ideia da ordem cronológica dos fatos. Não me lembro de muitos detalhes. Não sei o que disseram ao meu redor e nem a sequencia do “circuito de alivio das dores”. Lembro de algumas coisas como flashes de imagens. Quando entrei na partolândia, abri mão de todo o resto do universo. Se estava vestida ou nua, gritando ou respirando, andando ou parada, acompanhada ou sozinha, não me lembro exatamente.
Às 7h mais ou menos (aqui já começo a duvidar da minha memória), minhas duas obstetrizes lindas chegaram. Só sei dizer que quando elas entraram em casa, tive certeza que não dava para voltar atrás. A hora havia chegado.
E assim foi por todo dia 13/10. Contrações vinham e iam. Às 7h acho que já estavam de 10 em 10 minutos. Eu só queria o Mario perto de mim.
No incio usei a bola suíça. Banhos de chuveiro longos e quentes. Apoiava-me na cama, no sofá. Usava a banqueta, exercícios de respiração, óleos essenciais. Já estava difícil ficar de pé. Meu corpo pedia para eu me ajoelhar humildemente para receber minha pequena da forma mais primitiva possível, da forma mais simples.
As horas foram passando. As dores aumentando. Não há como descrever tais dores. Ora brandas, ora devastadoras. Meu corpo sussurrava, meu corpo urrava. Minha voz também.
E foram horas muito importantes. Momentos muito emocionantes. Declarações de amor, declarações de medo. Declarações de coragem e de covardia. Deixei fluir. Deixei fluir amor, carinho, pavor, cansaço mental, risadas, piadas, choros, tremores, calor, frio...deixei tudo fluir. Era eu extravasando o que eu tinha de melhor, era eu parindo, amando, me abrindo, recebendo, doando...sendo.
Nem me importei se havia vizinhos ao redor, nem sabia que existia relógio. Eu apenas fui. E levava comigo o homem da minha vida. Fomos juntos, de mãos dadas, nesta caminhada linda e espetacularmente nova. Estávamos juntos no desconhecido, mas eu, muito mais para dentro de mim mesma.
Eu estava me realizando. Estava tudo dando certo. As inseguranças que existiam na gravidez desapareceram para darem lugar a outras novas. Tudo bem. Não havia como voltar atrás.
As horas passavam, as dores só pioravam. Ao meu redor havia proteção e amor. Este circulo de pessoas que me acompanharam me deram mais do que eu poderia conseguir retribuir em toda minha vida. Amor incondicional. Só assim pude ir até o fim.
Depois de muitas horas na ultima fase do parto, na fase de expulsão, quando estava completamente entregue, cega, extasiada e exausta, com os joelhos ainda dobrados, em estado de total desapego, com os hormônios, neurotransmissores e instintos à flor da pele, senti minha pequena vir ao mundo. Senti cada pedacinho seu saindo de mim direto para as mãos do papai.
Meu expulsivo foi longo. Neste momento dolorido, eu entrei em um ciclo de medo da dor. Por ter medo de dores maiores, quando vinham as contrações, eu segurava a pequena dentro de mim. Depois de horas eu percebi que o parto não acontece somente no corpo, mas também na mente. Apesar de estar entregue, alguns medos pegavam meus pontos fracos e eu tive que supera-los.
No quarto, com as luzes apagadas, sem ao menos ver quem estava ao meu redor, sem pensar em nada, sem ouvir a voz de ninguém, somente sentindo a dor, gritando e sussurrando palavras que eu também não me lembro...a Lorena chegou. Primeiro a cabeça e um dos braços. Segundo contam, ela agarrou o braço do Mario enquanto eu esperava pela próxima contração para expulsa-la. Ela já saiu tendo a certeza de que será amparada pelo homem mais importante da vida dela, o pai. Não poderia ter sido mais perfeito, mais pleno, mais lindo.
Eu consegui fugir do sistema. Busquei o parto que julguei ser o melhor para mim e para a Lorena. Busquei o parto que pudesse fortalecer meus vínculos emocionais com minha filha e com meu marido. Busquei o parto que pudesse contar com a fortaleza, o conhecimento, o amor, a delicadeza e a dedicação de profissionais que trabalham a favor da natureza feminina. Busquei o parto que fizesse todo sentido para mim, realçando minha condição de mulher, fêmea, mamífera, dona do meu corpo. Pari da forma mais independente possível. E tive muito apoio emocional para isso.
Não houve intervenções desnecessárias. Não houve episiotomia, nem kristeller, nem analgesia, ocitocina sintética. Só houve amor e paciência. A mulher que quer parir, precisa de pessoas pacientes e confiantes ao seu redor.
Lorena não teve sequer uma alteração em seus batimentos cardíacos durante o nosso trabalho de parto. Trabalhamos juntas e em harmonia. Ela veio quando estávamos prontas. Nós duas. Ela soube nascer e eu soube parir. Está no nosso DNA, está na nossa memória genética, no instintos, na Historia da Humanidade.
Apgar 9/10. Sem crêdê, sem aspiração, sem furos, sem procedimentos invasivos na Lorena, só gentileza e delicadeza. Ela merece. Ela não podia ter uma equipe mais linda, sutil e harmoniosa para recebe-la nos primeiros momentos. E assim foi. Eu juro, que nem com todos os meus esforços, conseguirei ser tão suave e delicada com a Lori, como minha doula e minhas obstetrizes foram. Essa foi uma das coisas que mais me emocionaram. Eu quis pari-la naturalmente, da forma mais sutil possível, e ela ganhou de presente, mãos e vozes absolutamente suaves.
Obrigada as minhas amigas lindas que estiveram comigo pessoalmente durante o trabalho de parto, Juliana Martins e Ale Becky , e a todas que estiveram comigo pelo whasapp até quando pude responder. Eu senti de cada uma a força, a emoção e o carinho que tiveram por mim e comigo.
Obrigada Rebecca, que além de minha afilhada, agora é madrinha da Lorena e participou da fase final e do nascimento da pequena, com coragem e emoção.
Obrigada a minha equipe maravilhosa, Raquel Tavares, Mariane, Lilian, Rose e Camila, que fizeram um pré-natal lindo comigo e fizeram meu parto ser um sonho do começo ao fim.
Obrigada ao grupo de apoio ao parto humanizado de Santo André, Grupo MaternaMente ABC .
Obrigada ao meu amado marido, que esteve segurando minhas mãos, meu corpo e minha alma durante todo o processo. Jamais teria ido até o fim sem sua força e seu amor.
Obrigada ao meu amado marido, que esteve segurando minhas mãos, meu corpo e minha alma durante todo o processo. Jamais teria ido até o fim sem sua força e seu amor.
Gratidão eterna. Lorena é tão especial que não tenho palavras para descreve-la.
Amor.
Busquem seus sonhos, sempre.