quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Relato de parto - Márcia (mãe) e Lorena (bebê)

Foi uma alegria imensa acompanhar desde o comecinho a trajetória dessa mulher em busca de informação e empoderamento para ter o seu tão sonhado parto respeitoso, amoroso e mamífero! Foram horas muito intensas e felizes, cheias de carinho e muitas risadas (o humor da Márcia é incrível.... foi meu primeiro parto com stand up mom... rs), presenciando a natureza agir com toda sua força e energia para que a Lorena viesse ao mundo da forma mais bela, natural e respeitosa! 

Sem mais, fiquem com o lindo relato de parto e nascimento dessa nova família!
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Chegou a minha vez de relatar meu tão sonhado parto.
Pari. Simplesmente tornei-me uma fêmea, mamífera e segui meus instintos. Fiz o que meu corpo pediu, exigiu e implorou. Segui em frente em todos os momentos, mesmo quando duvidei do processo de dar a luz.


Depois de 38 semanas e 3 dias de uma gestação calma, zen, reclusa e natural, às 16:00h do dia 12/10, antes de entrar no banho, senti o tampão mucoso se desprender com algumas gotas de liquido amniótico. A principio não acreditei que fosse entrar em trabalho de parto. Juro que estava esperando que Lorena fosse chegar por volta da 41ª, 42ª semana...não sei porque. E também não acreditei que aquelas gotinhas eram realmente liquido amniótico. Estudei bastante durante a gestação, mas confesso que quando as coisas começaram a acontecer, eu não soube reconhecê-las. Estava entrando em um processo tão único de conhecimento do meu próprio corpo, que me deparei com eventos fisiológicos e sensações físicas e psíquicas que nunca havia experimentado, por ser a Lorena minha primeira filha.
Então a bolsa havia rompido. Pensei comigo que poderia ser apenas o descolamento do tampão, e como havia lido que este pode se regenerar diversas vezes, não me preocupei. Mas algo dentro de mim, meu lado instintivo, me fez tomar banho com um sorrisinho diferente no rosto... 

Estava com todo esquema pronto. Meu grupo no whatsapp composto pela minha doula, uma enfermeira obstétrica e três obstetrizes, estava sempre a postos para responder as minhas duvidas e aguardando o aviso de inicio de trabalho de parto. Expliquei o que havia acontecido e ainda bem descrente, segui o conselho do grupo, de descansar e me tranquilizar. Mentira! Mesmo ninguém sabendo ainda se o trabalho de parto iria engrenar, e mesmo tendo recebido conselhos para descansar e guardar energias, foi impossível conter a ansiedade. Meu coração disparou e assim permaneceu por horas...minha ficha estava caindo aos poucos, assim que comecei a sentir leves e irregulares cólicas.

Apesar de já estar imersa nos pródromos, não contei ao meu marido o que havia acontecido. E se não fosse nada? E se ele ficasse tão nervoso que destruísse meu plano de parir em casa? Esperei até umas 19h, 20h para contar a ele.
Resumindo este momento, ao saber que o tampão havia saído e eu já estava sentindo cólicas, Mario ficou algumas horas sem reação. Olhava para a tv sem piscar, sem mudar de canal, sem olhar para mim, sem se mexer...apenas respirava...e eu comecei a me sentir ofendida...Eu estava esperando que ele tomasse a iniciativa de mudar o clima, acender as velas, os incensos, colocar os mantras, ajeitar o ninho. Mas acho que ele estava muito chocado para pensar nisso. Então lã fui eu...levei meu cobertor para a sala, apaguei a luz direta, liguei a luminária, acendi incensos e velas, coloquei mantras no TuneIn Radio e tentei relaxar.
Continuei muito ansiosa. Além das leves e esparsas cólicas, só sentir meu coração acelerado. E não conseguia pensar muito. Estava já me conectando com meu corpo sem me dar conta.
Passaram-se as horas, a noite, a madrugada e por volta das 05h minha doula chegou. Que alivio. Estava mesmo em trabalho de parto. Quando ela chegou, senti segurança. Doula é amor e alivio, com certeza!  
A partir de agora, não faço ideia da ordem cronológica dos fatos. Não me lembro de muitos detalhes. Não sei o que disseram ao meu redor e nem a sequencia do “circuito de alivio das dores”. Lembro de algumas coisas como flashes de imagens. Quando entrei na partolândia, abri mão de todo o resto do universo. Se estava vestida ou nua, gritando ou respirando, andando ou parada, acompanhada ou sozinha, não me lembro exatamente. 

Às 7h mais ou menos (aqui já começo a duvidar da minha memória), minhas duas obstetrizes lindas chegaram. Só sei dizer que quando elas entraram em casa, tive certeza que não dava para voltar atrás. A hora havia chegado.
E assim foi por todo dia 13/10. Contrações vinham e iam. Às 7h acho que já estavam de 10 em 10 minutos. Eu só queria o Mario perto de mim.

No incio usei a bola suíça. Banhos de chuveiro longos e quentes. Apoiava-me na cama, no sofá. Usava a banqueta, exercícios de respiração, óleos essenciais. Já estava difícil ficar de pé. Meu corpo pedia para eu me ajoelhar humildemente para receber minha pequena da forma mais primitiva possível, da forma mais simples.

As horas foram passando. As dores aumentando. Não há como descrever tais dores. Ora brandas, ora devastadoras. Meu corpo sussurrava, meu corpo urrava. Minha voz também.

E foram horas muito importantes. Momentos muito emocionantes. Declarações de amor, declarações de medo. Declarações de coragem e de covardia. Deixei fluir. Deixei fluir amor, carinho, pavor, cansaço mental, risadas, piadas, choros, tremores, calor, frio...deixei tudo fluir. Era eu extravasando o que eu tinha de melhor, era eu parindo, amando, me abrindo, recebendo, doando...sendo.

Nem me importei se havia vizinhos ao redor, nem sabia que existia relógio. Eu apenas fui. E levava comigo o homem da minha vida. Fomos juntos, de mãos dadas, nesta caminhada linda e espetacularmente nova. Estávamos juntos no desconhecido, mas eu, muito mais para dentro de mim mesma. 

Eu estava me realizando. Estava tudo dando certo. As inseguranças que existiam na gravidez desapareceram para darem lugar a outras novas. Tudo bem. Não havia como voltar atrás. 

As horas passavam, as dores só pioravam. Ao meu redor havia proteção e amor. Este circulo de pessoas que me acompanharam me deram mais do que eu poderia conseguir retribuir em toda minha vida. Amor incondicional. Só assim pude ir até o fim.
Depois de muitas horas na ultima fase do parto, na fase de expulsão, quando estava completamente entregue, cega, extasiada e exausta, com os joelhos ainda dobrados, em estado de total desapego, com os hormônios, neurotransmissores e instintos à flor da pele, senti minha pequena vir ao mundo. Senti cada pedacinho seu saindo de mim direto para as mãos do papai.

Meu expulsivo foi longo. Neste momento dolorido, eu entrei em um ciclo de medo da dor. Por ter medo de dores maiores, quando vinham as contrações, eu segurava a pequena dentro de mim. Depois de horas eu percebi que o parto não acontece somente no corpo, mas também na mente. Apesar de estar entregue, alguns medos pegavam meus pontos fracos e eu tive que supera-los.
No quarto, com as luzes apagadas, sem ao menos ver quem estava ao meu redor, sem pensar em nada, sem ouvir a voz de ninguém, somente sentindo a dor, gritando e sussurrando palavras que eu também não me lembro...a Lorena chegou. Primeiro a cabeça e um dos braços. Segundo contam, ela agarrou o braço do Mario enquanto eu esperava pela próxima contração para expulsa-la. Ela já saiu tendo a certeza de que será amparada pelo homem mais importante da vida dela, o pai. Não poderia ter sido mais perfeito, mais pleno, mais lindo.

Eu consegui fugir do sistema. Busquei o parto que julguei ser o melhor para mim e para a Lorena. Busquei o parto que pudesse fortalecer meus vínculos emocionais com minha filha e com meu marido. Busquei o parto que pudesse contar com a fortaleza, o conhecimento, o amor, a delicadeza e a dedicação de profissionais que trabalham a favor da natureza feminina. Busquei o parto que fizesse todo sentido para mim, realçando minha condição de mulher, fêmea, mamífera, dona do meu corpo. Pari da forma mais independente possível. E tive muito apoio emocional para isso. 

Não houve intervenções desnecessárias. Não houve episiotomia, nem kristeller, nem analgesia, ocitocina sintética. Só houve amor e paciência. A mulher que quer parir, precisa de pessoas pacientes e confiantes ao seu redor.

Lorena não teve sequer uma alteração em seus batimentos cardíacos durante o nosso trabalho de parto. Trabalhamos juntas e em harmonia. Ela veio quando estávamos prontas. Nós duas. Ela soube nascer e eu soube parir. Está no nosso DNA, está na nossa memória genética, no instintos, na Historia da Humanidade.
Apgar 9/10. Sem crêdê, sem aspiração, sem furos, sem procedimentos invasivos na Lorena, só gentileza e delicadeza. Ela merece. Ela não podia ter uma equipe mais linda, sutil e harmoniosa para recebe-la nos primeiros momentos. E assim foi. Eu juro, que nem com todos os meus esforços, conseguirei ser tão suave e delicada com a Lori, como minha doula e minhas obstetrizes foram. Essa foi uma das coisas que mais me emocionaram. Eu quis pari-la naturalmente, da forma mais sutil possível, e ela ganhou de presente, mãos e vozes absolutamente suaves.


Obrigada as minhas amigas lindas que estiveram comigo pessoalmente durante o trabalho de parto, Juliana Martins e Ale Becky , e a todas que estiveram comigo pelo whasapp até quando pude responder. Eu senti de cada uma a força, a emoção e o carinho que tiveram por mim e comigo.

Obrigada Rebecca, que além de minha afilhada, agora é madrinha da Lorena e participou da fase final e do nascimento da pequena, com coragem e emoção.

Obrigada a minha equipe maravilhosa, Raquel Tavares, Mariane, Lilian, Rose e Camila, que fizeram um pré-natal lindo comigo e fizeram meu parto ser um sonho do começo ao fim.
Obrigada ao grupo de apoio ao parto humanizado de Santo André, Grupo MaternaMente ABC .
Obrigada ao meu amado marido, que esteve segurando minhas mãos, meu corpo e minha alma durante todo o processo. Jamais teria ido até o fim sem sua força e seu amor.
Gratidão eterna. Lorena é tão especial que não tenho palavras para descreve-la.
Amor.


Busquem seus sonhos, sempre.

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Semeando e regando novas parcerias



Setembro é um mês um tanto emblemático na minha vida. Foi às vésperas da primavera de 2013 que pedi demissão de uma profissão que já não me pertencia e nem eu a ela. Exatamente um ano depois, eu entrava pela primeira vez em um hospital como doula voluntária, para acompanhar o primeiro parto da minha vida.

Foram tantos apredizados, tantos altos e baixos profissionais e pessoais nesse período iniciado em 2013, quando sem a menor ideia do que viria pela frente eu decidi dar um salto no escuro. Demorou para eu encontrar um rumo e sou pura gratidão ao meu parceiro, Jefferson, que me apoiou - como sempre - em todo esse processo!

Conheça o Empório Materno
O rumo eu mesma estou traçando! E no caminho estão surgindo tantas alegrias, que meu coração transborda mais uma vez de gratidão!


Duas dessas alegrias são o motivo desse post: as novas parcerias que estou consolidando profissionalmente agora em setembro: com o Empório Materno e o Mamastê.

Na verdade, as duas parcerias já foram semeadas há um tempo. Agora, às vésperas da primavera de 2015, com as chuvas de mudança da estação, aproveito para rega-las com alegria!


Conheça o Mamastê
Para isso, criei uma página nova no blog (Parcerias), com o link para as páginas do Empório Materno e do Mamastê!

Gratidão Érica Lourenço - a cabeça, o coração e o ventre por trás do Empório - por sua confiança, amizade e perseverança! Nossa parceria começou lá atrás, quando o destino nos uniu na mesma família e vamos seguir juntas por muito tempo ainda, tenho certeza! Conte comigo!

Gratidão Larissa Leal e Nanda Aranda (confira o blog da Nanda neste link), por me convidarem para compor essa equipe tão séria, competente e compromissada com os ideais do protagonismo da mulher durante a gestação e o parto (e por toda a vida, por que não?). Podem contar comigo!

Botar a mão na massa em equipe e trabalhar muito para colher os frutos dessas parcerias... Essa é a melhor forma que eu encontrei para agradecer pela confiança e o carinho!

Bora trabalhar?

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

A cada parto, uma lição

Neste mês de agosto completei um ano de formação no curso de doula. Um ano conhecendo muitas mulheres nos momentos mais preciosos de suas vidas: a espera e a chegada de seus bebês!

Tive o privilégio e a alegria de acompanhar 10 delas, seja como doula ou doula backup, em momentos tão intensos desde a preparação até o nascimento de seus bebês, vivenciando com elas os altos e baixos do trabalho de parto, as alegrias, as incertezas, os desafios... tenham certeza, meninas, que aprendi muitas lições em cada um desses partos! 

Vocês marcaram a minha história para sempre e para sempre vou lembrar do primeiro parto que acompanhei em um carro, da primeira cesárea, o primeiro parto domiciliar, o primeiro parto "à jato".... enfim, tudo o que vivi nesse ano e nesses partos, tudo pela primeira vez, ficará marcado em mim.

Aprendi a ser mais "conservadora" em relação as contrações, que podem dar a impressão de que o trabalho de parto engrenou de vez (e, pelo contrário, ele mal começou) ou que vai demorar muito ainda, mas no minuto seguinte a dilatação já está total. As ultrassonografias quase sempre - eu diria SEMPRE - "erram"... e não são diagnóstico de nada. Mecônio realmente não quer dizer nada, se os batimentos cardíacos do bebê estão bem e tranquilizadores!

Acima de qualquer experiência prática que tenha me ajudado a comprovar ou desmentir teorias, a maior lição que aprendi com essas mulheres, esses partos e seus bebês foi que os planos (e os planos de parto) nem sempre - eu diria NUNCA - se concretizam da maneira que os idealizamos. 

Cada parto é de um jeito e esse jeito é um mistério, uma força da natureza que só se revela no momento em que o organismo da mulher e o do bebê decidem, inadvertidamente, o momento de parir e nascer.

Se eu pudesse dar uma dica, ensinar algo para as mulheres que ainda vão parir, seria isso: estude, planeje seu parto, tenha um plano A, B, C... mas mantenha a mente serena e procure se acostumar com a ideia de que os planos nem sempre se realizam e isso não é, necessariamente, algo ruim.

Que delícia saber que ainda tenho tanto a aprender! Por isso prossigo com o coração aberto, a mente tranquila e os braços prontos para acolher mais e mais histórias e continuar aprendendo... a cada parto, uma lição!

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Um pequeno grande passo para a humanização do nascimento

Entra em vigor hoje a Resolução Normativa 368 (clique para ter acesso à Resolução na íntegra) da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Fruto da pressão da sociedade civil (leia aqui e aqui sobre o histórico de lutas da Rede Parto do Princípio - Mulheres em Rede pela Maternidade Ativa), a resolução que visa diminuir o número epidêmico de cirurgias cesarianas no setor privado (88%, segundo a pesquisa "Nascer no Brasil". A recomendação da OMS é de no máximo 15% de cesarianas) é fruto de uma consulta pública realizada em meados do ano passado. A medida foi anunciada em janeiro e agora em julho inicia-se a sua efetiva aplicação!

IMPORTANTE: acesse aqui a página da Resolução na íntegra e baixe os ANEXOS para ver os modelos de Cartão da Gestante, de Carta de Informação à Gestante e de Partograma que deverão ser usados pelos planos!
Mas o que preconiza a RN 368 da ANS?

A Resolução busca estimular as gestantes, profissionais e planos de saúde a optar pelo parto normal por meio de diversas medidas, como:

- Divulgação das taxas de césareas por estabelecimento (hospitais e maternidades) e por profissional (médico). Para isso, a gestante ou seu representante legal deverá solicitar à operadora os dados de partos normais e de cesarianas da própria operadora, dos médicos e das maternidades em que pretende dar à luz (podem ser solicitados dados de mais de um estabelecimento e profissional ao mesmo tempo). A ANS orienta que o pedido deve ser feito pelos canais de comunicação da operadora (telefone, email, correspondência ou pessoalmente). E os dados devem ser apresentados de forma clara e objetiva, para facilitar o entendimento.

Importante salientar que a resposta aos usuários deve ser dada no máximo em 15 dias a partir da data de solicitação. E as operadoras que deixarem de fornecer as informações serão multadas em R$ 25 mil.

- Fornecimento do Cartão da Gestante e Carta de Informação à Gestante

- Utilização de Partograma


No site da ANS você encontra a notícia com detalhes e uma seção de esclarecimentos com perguntas e respostas rápidas.

Cuidado com as fontes em que você busca informações. Algumas matérias na mídia estão fazendo sensacionalismo com a novidade, levando a um entendimento enviesado da RN 368. 

Por exemplo: a cirurgia cesariana SERÁ COBERTA TOTALMENTE pelo plano de saúde, como salienta a própria ANS na sessão de perguntas e respostas:

"20. No caso de cesariana a pedido da gestante, a operadora deve cobrir o procedimento?
Cartaz da Programa "Parto é Normal",
criado para esclarecer a Resolução 368
Sim, a operadora deverá cobrir o procedimento. O Código de Ética Médica, no artigo 24 do capítulo IV, que versa sobre os Direitos Humanos, dispõe que é vedado ao médico “Deixar de garantir ao paciente o exercício do direito de decidir livremente sobre sua pessoa ou seu bem-estar, bem como exercer sua autoridade para limitá-lo”. Entretanto, como a cirurgia cesariana a pedido da gestante é um procedimento cirúrgico que acarreta riscos para a mãe e o para o bebê, o Partograma deverá ser substituído no processo de pagamento por um Relatório Médico, constando um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido assinado pela gestante. "

A cirurgia cesariana não foi proibida. Apenas regulou-se o faturamento do procedimento.

Quem é do movimento pela humanização do parto e do nascimento, sabe que essa norma é apenas um pequeno passo. Que o que precisa mudar, urgentemente, são as condutas. É preciso que os profissionais que prestam assistência às gestantes, às mulheres em trabalho de parto e aos recém-nascidos atualizem seus conhecimentos, baseando-se sempre em evidências científicas sérias e atualizadas.

Afinal, não é da noite para o dia que um profissional formatado por conhecimentos científicios duvidosos e desatualizados, com anos e anos de prática em partos cirúrgicos (seja por via vaginal, seja por cesariana) vai saber assistir um parto fisiológico resultado de uma gestação de risco habitual e APENAS intervir se for ESTRITAMENTE NECESSÁRIO.

É preciso formar equipes multiprofissionais, que incluam enfermeiras obstetras, obstetrizes, doulas, fisioterapeutas, psicólogos etc. E acima de tudo, transmutar completamente o pré-natal, devolvendo à mulher e à sua família o poder de escolha informada, baseada em muito diálogo, troca, informação de qualidade e empoderamento!

Até lá, vamos comemorando cada passinho de formiga, cada cutucada nos acomodados de plantão para que se movam e mudem procedimentos, protocolos, práticas e atitudes!

#jutassomosmaisfortes

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Apertando o calo

Plenário cheio, doulas, mães, bebês, conselheiros
e usuários do sistema de saúde de Santo André!
Abaixo, dra. Rosa, superintendente do Hospital
da Mulher (HM), esclarecer como está a relação
do Hospital com as as doulas!
Graças ao diálogo e à pressão do movimento
social,  nós doulas somos aceitas no HM desde
setembro de 2014!
Fotos: Sarah Bryce
Dia 18/06/15, quinta-feira, foi O DIA de a sociedade mostrar ao Conselho Municipal de Saúde de Santo André o que precisa ser feito para melhorar a assistência à saúde sexual e reprodutiva da mulher na cidade.


Deborah Delage, membro do Conselho, representando o MDDF e o Maternamente ABC, pediu a pauta, que há muito tempo não era pedida por ninguém do segmento da sociedade (pasmem!) e discorreu sobre a situação do atendimento desumanizado, baseado em vidências e ciência ultrapassada à que nós, mulheres, somos submetidas quando necessitamos de assistência à nossa saúde sexual, no pré-natal, no parto, no puerpério e em situação de abortamento!


Qual o cenário atual? Desafios? O que queremos?
Fotos: Sarah Bryce
O movimento social apertou o calo: leis e iniciativas governamentais nós temos (e de sobra, como a Rede Cegonha e a Política Nacional de Humanização do SUS), mas cadê a prática? Dados sobre episiotomias e cesárias eletivas nós também temos, mas cadê o acesso fácil e irrestrito a esse tipo de informação, principalmente quando se refere ao atendimento em hospitais privados?

Ao final da apresentação, prestigiamos o
último dia de exposição da Semana Internacional
pelo Respeito ao Nascimento organizada pela
Rede Parto do Princípio.
Não estamos apontando o dedo na cara de profissionais em particular, mas sim nas atitudes, nos costumes! Damos chacolhões e mostramos que talvez seja preciso mais do que experiência e tempo de trabalho para promover saúde e boa assistência! É preciso vontade de se reciclar, de buscar evidências científicas atualizadas, de estudar sempre e nunca se conformar, acreditando que o que se sabe é o suficiente, que a forma como se pratica a medicina, a enfermagem etc. é a única forma de ser feito...

Foi uma apresentação para o Conselho de Santo André, mas poderia ter sido em qualquer cidade do Brasil. Afinal, estamos todas no mesmo barco, vítimas de uma péssima assistência e de um sistema que só vai mudar quando não mais ficarmos caladas!

Juntas somos mais fortes!

terça-feira, 9 de junho de 2015

Cosquinhas e chacoalhões - como mudar a assistência ao parto no Brasil?

Uns bons ventos já passaram por essas bandas e mais de um mês se foi sem que uma ideia para um post nascesse em mim! Nesse meio tempo, férias, reflexão, reestruturação fizeram parte da minha caminhada. E agora volto com tudo, plena de algumas certezas e tantas dúvidas que me incentivam a continuar caminhando!

Juntas somos mais fortes e v(o)amos mais longe!
Uma das certezas é inabalável: a necessidade de unir esforços de todos os lados, para impulsionar a mudança. A busca por mais respeito e autonomia no atendimento à saúde no Brasil precisa de todos e de cada um. É claro que as conquistas individuais são válidas, merecem seu mérito, por fazer o trabalho de "formiguinha" necessário para a mudança no corpo à corpo. 

Escrevo aqui  sobre as mulheres que a cada dia, e cada vez mais, estão conquistando (à unha) o direito de gestar e parir com dignidade, respeito e amor. Para elas dedico toda a minha reverência e respeito! Mulheres parideiras, vocês são demais!

Mas - e há sempre um mas - o buraco é mais em cima! E as conquistas individuais representam cosquinhas em comparação ao chacoalhão que precisa ser dado em médicos, legisladores, gestores e instituições. 


O caminho já está sendo trilhado e o que se pode fazer é engrossar o coro de quem já vem gritando a plenos pulmões há um bom tempo. Você já parou para se perguntar o que está sendo feito na sua comunidade para mudar a assistência à saúde, no geral, e a assistência obstétrica especificamente?

Aqui no ABC (SP), região onde vivo e atuo como doula, o grupo Maternamente - um dos braços da Parto do Princípio - vem dialogando diretamente com gestores da região, principalmente no Hospital da Mulher e conquistou diversas melhorias no atendimento: o aceite e respeito ao Plano de Parto, a entrada e permanência de doula (previamente cadastrada) com a  parturiente E o acompanhante. 

Pequenas mudanças como essas vão somando conquistas no dia-a-dia... cada vez mais mulheres estão se empoderando e conseguindo parir dignamente! O trabalho, porém, é para que o atendimento respeitoso valha para todas e não somente para aquelas que estão acompanhadas por doulas e possuem plano de parto!

Nessa semana há uma oportunidade perfeita para quem quer fazer parte desse movimento aqui no ABC: a reunião mensal do Conselho Diretor do Hospital da Mulher, no dia 11/06, quinta, das 10h30 às 12h, no próprio Hospital, na sala de reuniões da Superintendência. Essa é uma das oportunidades de sentar à mesa com autoridades e gestores para apontar falhas ou acertos e contribuir com sugestões e críticas construtivas. 

Vamos nos encontrar por lá? ;)

quinta-feira, 30 de abril de 2015

Relato de Parto - Thais (mãe) e Miguel (bebê)

A lembrança daquela noite fria e de garoa ainda reverbera em mim!

"Vem que as contrações estão cada vez mais fortes...". No caminho, com meu marido me levando até o hospital, ouvi Alceu Valença nem sei quantas vezes, cantando baixinho, confirmando que o Miguel estava dando "os seus sinais", meditei e juntei forças para atender o parto de mais uma diva parideira!

No fim, virou tudo de ponta cabeça, os planos não resistiram à realidade e o Miguel veio como tinha que vir: rodeado de respeito e carinho. Depois daquele dia, renovei as esperanças de que algumas pessoas estão fazendo a diferença no atendimento obstétrico no SUS, no ABC. E confirmei minha admiração por Thais, essa mulher tão feminina, delicada, perseverante e guerreira!

Querida, você merece todo apoio, empatia e admiração dessa doula aqui, que só faz agradecer por termos nos cruzados nesses caminhos doidos da vida! Eu agradeço, eu agradeço, eu agradeço!

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"Demorei um pouco, devido as mudanças na rotina, a minha adaptação a nova vida, e minha recuperação pós parto! Mas aqui está o relato do nascimento do Miguel! Não deu pra falar só do nascimento, sem contar alguns detalhes da gestação! :

É muito difícil escrever tudo o que senti, na verdade não tem como, o sentimento é único e muito intenso, que não tem uma descrição!
Tudo começou em Julho de 2014 pensei que estava com uma gastrite atacada, nada parava no meu estomago e sentia muita ânsia. e então em um belo sábado de manhã dia 26/07/2014, fui escovar os meus dentes e BLAAAAH!


Pensei no suco de maracujá que tinha tomado no dia anterior, que o Michael disse que estava estragado, mas no fundo achei muito esquisito!



Fui ajudar minha amiga Mariana no box de óculos dela, contei o que aconteceu e ela disse pra eu fazer um teste de gravidez, minha mãe disse: "Você tá grávida!" .. Mas toda vez que eu vomitava minha mãe dizia isso, então nem levei em consideração.. 

E eu tomava remédio, então pra que se preocupar?

Fiz o teste por desencargo, deu positivo! Paralisei no banheiro até a Mari ir ver se tava tudo bem, fiz o segundo teste POSITIVO! E ela disse: "Parabéns mamãe"

Meu mundo desabou, fiquei desesperada, estávamos com reforma na casa, prestes a nos mudar e começar nossa vida a dois, e agora vamos ser 3?
Pensei que ficaria sozinha, que ele não aceitaria, não fazia nem 3 semanas que ele havia dito que só queria filhos daqui 10 anos. Dei risada ao me lembrar. Fumei um maço de cigarro até o fim da tarde! 

Desespero, medo, e felicidade, talvez fosse o que senti naquele dia! Os dias, as semanas e os meses foram passando a barriga crescendo, e o amor que eu sentia por ele só aumentava. Descobrimos que era um menino, e eu já sabia o nome: Miguel.Não teve outra opção pra mim, era esse o nome que queria pro meu filho, desde o início. Cada ultrassom, cada chute, cada cardiotoco, cada mexida, uma emoção!

Até que comecei a ficar muito fraca e a passar muito mal, minha anemia esferocitose, uma doença um pouco rara se agravou na gestação e com 5 meses tive que fazer uma transfusão! Comecei então a estudar sobre os tipos de parto, pois estava com medo de como o Miguelinho viria ao mundo, e havia a preocupação da perda de sangue no parto.


Com 7 meses tive que fazer outra transfusão para estar preparada para o parto. E então entrei em uma gravidez de alto risco! E fui buscar mais informações ainda sobre o parto que eu queria! Resolvi que queria um parto natural, um parto humanizado, respeitoso! Queria que o Miguel viesse da forma mais natural possível, assisti o documentário "O Renascimento do parto", me apaixonei pela forma que aquelas mulheres pariram e resolvi que era aquilo que eu queria, não foi fácil aguentar os burburinho! Realmente as pessoas não entendem as nossas escolhas, e acham que podem escolher por nós.


O meu marido ficou ao meu lado e me apoiou na minha escolha, e era do apoio dele que eu precisava nesse momento. As mulheres de hoje estão muito acomodadas com a cesárea, onde marcam a data e tiram seus bebês sem esperarem o tempo dele. E muitas dessas me estressaram muito na gestação, por falarem demais e me apoiarem de menos.

Depois da segunda transfusão, tive que começar um pré natal de alto risco no Hospital da Mulher, onde eu ia ganhar o Miguelinho, aproveitei e fiz um curso de gestante também por lá, para saber mais sobre o hospital, e os procedimentos, já que lá é um hospital humanizado, que dá total preferência ao parto normal.


Descobri que lá eu poderia ter o acompanhamento de uma Doula se eu quisesse, e eu queria muito, mas achei que o hospital não aceitava. Saí de lá a procura de alguma que eu sentisse que era ela que queria comigo, no meu pré parto, durante o parto e o pós parto!


Conversei com algumas, contei toda a minha historia, pesquisei e procurei, até que achei a Raquel, uma "anja" que ajudou muito o meu dia a dia, com 36 semanas, encontrei, UFA! E foi sensacional, teve uma sintonia maravilhosa.


Com 38 semanas comecei a ter contrações de treinamento, e comecei a treinar os exercícios que ela passou pra mim e pro Michael! Com 38 semanas também mudei de casa, achamos um lugar ótimo, e o Miguel teria o quarto dele, não cabia tanta felicidade dentro de mim! Entre contrações, caixas de mudanças, móveis sendo montados, e mudança de lua, achei que ele viria naquela semana, sqn. Ele queria esperar mais um pouco.


Fomos nos adaptando a nova casa, dancei muito com ele dentro de mim, conversei, massagiei, meditei junto com a Raquel, e aproveitando cada minuto da minha barrigona sempre (que sinto falta rsrs). Tirei muitas fotos para guardar aquele momento. 


Fiz 39 semanas e nada de Miguel, já não aguentava mais as mensagens de todos perguntando se ele não ia nascer, não aguentava as cesaristas de plantão, "Ai tira logo ele, você deve estar cansada". OOOOOI?  Gente, cansada a gente fica, mas eu pelo menos amava estar grávida, eu engordei 16 Kg, e nunca me senti tão linda, quanto na gravidez, eu amava até minhas celulites.

Com 40 semanas e 3 dias dia 20/03 fui ao hospital fazer o exame do coração do neném, o cardiotoco. No caminho comecei a sentir algumas contrações, mas não disse nada a minha sogra pois não sabia se elas pegariam ritmo, e não estavam doloridas. Cheguei ao hospital, com a demora elas começaram a ficar ritmadas e comecei a ficar preocupada pois eu queria estar em casa no primeiro estágio do TP (Trabalho de Parto). Como eu e o Michael havíamos planejado, junto com nossa doula.


Passei com um ogro de um médico grosso que fez um exame de toque em mim que me machucou muito, estava com 2 cm de dilatação. Quando sai da sala dele comecei a sentir dor, muita dor e então senti algo querendo sair, fui ao banheiro era o tampão, aquela coisa gelatinosa com sangue, e aí as contrações ritmaram de 5 em 5 minutos, e estavam doloridas. Fui finalmente depois de 2 horas fazer o exame, e as contrações vindo.

Acabou o exame e elas estavam de 3 em 3 minutos e pediram para repetir o exame, pois o batimento estava fraco, mas naquele momento não dava pra ficar deitada pra fazer, NÃO DAVA! Nem sentada, eu precisava me mexer. E aí quiseram me dar janta, GENTE.. contração com arroz feijão e bife, NÃO COMBINAM. Lógico que vomitei!

E então percebi, as contrações estavam de 2 em 2 minutos e tudo que eu queria era que meu marido e minha doula chegassem logo, pois ali percebi que não voltaria mais pra casa, é.. o Miguel ia nascer. A enfermeira obstétrica notou o intervalo de minhas contrações e foi me tocar eu ainda estava com 2 cm. O QUEEEEEE??? Eu queria desistir. Eu chorava, eu berrava, eu ria, eu socava as paredes, eu dançava, só não dava pra ficar parada!

Meu marido chegou, que alegria, ele sabia os exercícios e massagens que nossa doula nos ensinou para esse momento, e então tudo parece que ficou mais bonito, ele comigo, me ajudando em cada contração. Curtindo cada momento.

Tinha hora que eu pedia me abraça e me aperta, outras eu queria que ele não encostasse em mim. Era a Partolandia, é incrível. Você não tem controle, faz o que seu corpo pede, e eu conversava com o Miguel, e isso me tranquilizava. 

A Raquel chegou e não conseguiu entrar tão rápido, mas conseguimos fazer alguns exercícios, e então resolveram que eu subiria pra sala de parto!
UFA vou poder tomar banho, e usar a bola, a barra, o cavalinho, fiquei super feliz, e mais calma! Pena que não foi assim! Aquele 1 min de intervalo entre as contrações, parecia que eles não existiam mais. Eu sabia que doía não sabia que era quase insuportável, isso que não senti a metade do que queria sentir.
Eu queria sentir, por mais que eu quisesse algumas vezes desistir, quando a dor passava eu pedia: NÃO ME DEIXEM DESISTIR!

Foi então que cheguei na sala de parto e a médica veio falar comigo, e tudo mudou! Ela falou: "Mãe, vou te mostrar o resultado de exame do seu bebê e de outro bebê." E então ela explicou: "Esse é o coração de um bebê saudável, esse é o coração do seu bebê". Entrei em choque! E ela continuou: "Você está com só 3 cm, suas contrações estão com um intervalo muito pequeno, e o batimento do seu bebê mostra que ele está em sofrimento, eu indico você já ir pra sala de cesárea!"

Acabou, meu mundo caiu, nada do que planejei estava acontecendo, como eu queria sentir ele nascer, como eu queria parir! E então achei que se eu fosse eu seria má, mas não queria que ele sofresse! Ela falou que eu tinha a alternativa de fazer outro cardiotoco, e que ela romperia minha bolsa, mas que não iria adiantar muito e podia apenas atrasar a cirurgia e deixá-lo mais tempo em sofrimento na barriga, MAS seria uma escolha minha.


PQP não queria que rompesse minha bolsa artificialmente, não queria deixá-lo em sofrimento, mas não queria fazer cesárea. Pensei muito nos médicos cesaristas, que enganam mães para fazer logo uma cesárea, mas também eu sabia que lá eles priorizavam o parto normal, e que realmente só faziam cesáreas em último caso, quando a mãe ou o bebê corriam risco de vida! E foi então que ela disse: "Você pode fazer isso logo, ou correr o risco, a opção é sua".


Eu e meu marido, não queríamos cesárea, queríamos parir juntos, mas o medo de perder nosso pequeno tomou conta de nós, a minha gravidez de alto risco não me permitia demorar muito para escolher! E então aceitei a cesárea! Nos preparamos, e fui para a sala de cirurgia! Nessa hora minhas contrações não tinha mais intervalo! Quando cheguei na sala, uma contração bem forte e um PLOFT.. minha bolsa estourou! Cheia de mecônio dentro, já estava espesso, bem grosso e verde. O medo tomou conta de mim, eu não queria estar ali, e chorei muito.


Como é ruim aquela anestesia, você não sente nada, nem a sua bunda! É horrivel! Parece que demorou uma eternidade, mas sei que foi rápido. Tudo começou umas 17h30 e quando foi 1h14 com 2.780 Kg e 49,5 cm Miguel veio ao mundo. Não me mostraram ele logo que nasceu, eu não consegui vê-lo nascer como eu queria, o Michael não pôde cortar o cordão dele, pois ele precisou de oxigênio assim que nasceu. É nada foi como planejamos! Como eu chorei. Foi um turbilhão de sentimentos!

Havia tristeza por tudo o que estava vivendo, e muita alegria por ter chegado a hora dele! E quando o vi pela primeira vez, chorei de felicidade, de amor, de emoção, e tudo de ruim que estava sentindo acabou! Eu o senti pela primeira vez fora de mim, que delícia, que alegria, quanta emoção! Ali me tornei mulher de verdade, me tornei MÃE!


E que sensação incrível, ele pode não ter vindo como eu queria, como eu planejei, e como eu havia me preparado. Mas ele veio, e com saúde, e isso que me importa! Eu esperei o tempo dele, eu senti a emoção da Partolândia, me senti uma leoa durante as contrações, senti algumas das dores do parto normal, senti a dor do parto cesárea, e hoje tenho meu filho nos meus braços!
E o amor que sinto por ele aumenta a cada dia.

Eu nasci de novo, eu o fiz, gestei, não o pari. Mas ele nasceu em boas mãos, pois eu confiei a vida dele àquela Doutora que foi um amor e me tranquilizou o tempo inteiro, naquela sala de cirurgia. E para a minha alegria, e a do meu marido, nosso filho chegou. Minha vida mudou. Antes eu era apenas a Thais, agora eu sou a Thais mamãe!

Miguel nós amamos você!
Obrigada a todos que participaram desse dia maravilhoso, e viveram comigo todas as emoções que senti! E agradeço a Deus por permanecer ao meu lado, durante toda a minha gestação, desde o primeiro dia, ao nascimento do Miguel!


Obrigada pelo melhor presente da minha vida.


segunda-feira, 30 de março de 2015

"Prazer, eu sou a placenta!" - #placentaço #partonãoéobsceno

Se você é brasileiro e está logado no Facebook, com certeza viu na página de pelo menos uma amiga a foto de uma placenta!

Explico: hoje e amanhã (30 e 31/03/2015) acontece um protesto virtual no Facebook contra o bloqueio de fotos e vídeos de partos naturais, placentas e amamentação! Muitas pessoas, entre elas doulas, fotógrafos especializados em partos, mães e pais, estão vendo suas fotos e até mesmo seus perfis serem denunciados ao Facebook por mostrarem violência e nudez/obscenidade!

"Mas o que é violência no parto? É kristeller, é episiotomia, é mulher amarrada certo? Infelizmente não. Para o FB violência é uma imagem de placenta. Justo a placenta, fonte de vida de nossos bebês dentro do nosso corpo, órgão espetacular, temporário e fundamental a todos nós."
Trecho de divulgação do #placentaço #partonãoéobsceno no evento do Faceook!


Esta é a placenta da Line Sena, fotógrafa.
Por causa dessa foto, seu perfil ficou fora do ar
após denúncia de violência
.
Infelizmente, a cultura hermética dos hospitais colocou entre quatro paredes, atrás de muros bem altos um acontecimento natural, fisiológico, familiar. Creio que daí advém a surpresa e a indignação daqueles que denunciam as fotos de partos e de placentas como sendo violência ou nudez explícita. E muitas dessas pessoas não deve sequer saber o que é uma placenta e qual é o seu papel durante a gestação de um bebê, porque quando um parto é hospitalar, com uma equipe nada humanizada, a placenta é simplesmente separada do bebê o mais rápido possível para ser jogada fora ou incinerada!

Aqui vai a contribuição do meu singelo blog ao #placentaço. Vamos descobrir hoje o que é uma placenta! 

A placenta é um órgão que se desenvolve exclusivamente durante a gravidez. Fica grudada à parede do útero, recebendo por meio do sangue da gestante os nutrientes, hormônios e oxigênios necessários à vida do bebê. Esse componentes são levados ao bebê por meio do cordão umbilical. É a placenta que faz a ponte entre a mãe e o bebê.

A árvore da vida carimbada
 com tinta!  Um belo quadro, não?
Fonte: Google
Ao descobrirem a importância desse órgão para o bebê, muitas mães buscam formas diferentes de prestar homenagens às suas placentas. Fotos, carimbo (com o próprio sangue ou tintas), plantar junto à raiz de uma árvores, transformar em pílulas ou mesmo comer um pedaço para recuperar-se do exaustivo trabalho físico e emocional de parir. A doula e fotógrafa Kalu Brum explica com mais detalhes cada uma dessas alternativas aqui.

Alguns mitos rodeiam a placenta e são apresentados como motivos para uma cesárea de emergência ou mesmo repouso absoluto para precaver abortos espontâneos. Seguem alguns links em que se encontram informações para desfazer esses mitos:


Esse assunto é pertinente a todos nós! Se você não nasceu de chocadeira, certamente dependeu de uma placenta para viver e se desenvolver no útero da sua mãe! Viva a placenta, viva os nascimentos respeitoso!

#placentaço #partonãoéobsceno

quarta-feira, 25 de março de 2015

Relato de Parto - Jessica (mãe) e Ellie (bebê)

Morro de amores por essa profissão, Doula, que me escolheu pelos caminhos da tortos da vida! É bom demais entrar na vida de famílias diversas em um momento tão especial quanto a gestação e o parto de um bebê, um novo ser que chega de forma respeitosa e amorosa ao mundo e que com certeza terá as bases certas para mudar o mundo para melhor!

Sim, é romântico, é utópico e eu acredito mesmo na frase de Michel Odent: "Para mudar o mundo é preciso primeiro mudar a forma de nascer".

E depois de vivenciar esse processo, não tem presente melhor do que receber o relato de parto da Jessica, a primeira mulher que vi parindo naturalmente, sem intervenções desnecessárias, sentido prazer - e não dor - nos puxos e na descida da bebê e divando no trânsito de São Bernardo. Pois é, a Ellie nasceu no carro*! :D

Querem saber como foi essa história? Está ai o relato da Jessica para inspirar e espalhar as sementinhas do parto respeitoso! Boa leitura!

* ATENÇÃO: doulas não fazem parto. Inclusive, nem médicos e nem enfermeiras fazem parto. Quem faz parto é a mulher! Nesse dia, o tempo das contrações e os puxos "nos enganaram" e o trânsito de São Bernardo não contribuiu para que chegássemos à tempo na Casa de Parto. Acabou acontecendo um parto desassistido, que em nenhum momento esteve nos planos de Jessica. Porém, no dia anterior ela havia feito exames (cardiotoco, amnioscópio, dilatação, que mostraram que estava tudo caminhando muito bem, obrigada!) e estava muito empoderada depois de tudo o que estudou durante a gestação. Foi isso que nos deu tranquilidade para viver o parto desassistido e receber a Ellie com amor e respeito!

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"Oi gente, hoje faz quase um mês que a Ellie nasceu, e enfim consegui terminar meu relato, ta grandinho, mas não dava pra falar de uma experiencia sem mostrar o outro lado da coisa! Espero que gostem 
Emoticon heart

Essa historia é pras minhas meninas, para que possam ler um dia e saber o quanto elas mudaram minha vida! Obrigada por me escolherem como mãe!
Acho que devo começar pelo começo de tudo, eu com 14 anos, quando descobri a gravidez foi muito difícil pra mim, mas eu sabia que o mínimo que eu podia fazer era dar o melhor de mim pro bebe estava no meu útero, a gestação foi super tranqüila, fui pra escola até o ultimo mês! Quando pensava em parto, nunca pensei numa cesárea, nem sabia que isso era uma opção pra maioria das pessoas, não tive medo nenhum, só queria que chegasse logo. Até que passamos da DPP e ai começou a bater o desespero, fizemos 40 semanas, 41... E eu não sentia nem uma contração de treinamento. 

Com 41s+4d o GO resolveu me internar pra induzir o parto, UFFA! Até que na hora da internação não deixaram nem o Leandro (meu namorado) e nem minha mãe ficarem comigo. Demorou bastante pra indução começar a fazer efeito, mas quando começaram as contrações já vinham bem fortes e próximas, exame de toque e cardiotoco a todo o momento e eu assustada, chorando quietinha com medo das reclamarem de barulho! Por alguns momentos pensei que preferia morrer a passar por aquilo, sozinha numa sala escura... Uma hora me levaram pra sala de parto, me colocaram numa posição estranha a meu ver (litotomia), me mandaram fazer força, me cortaram, empurraram minha barriga e quando enfim ela nasceu levaram ela de mim sem nem me mostrar o rosto dela, sem eu sentir seu cheiro, seu calor. Depois de me costurar e de provavelmente fazerem todos os procedimentos do protocolo com a minha filha me entregaram ela, num corredor gelado e com luz forte, minha pequena Sophia, me desculpe por tudo isso, eu sinto muito mesmo, queria muito voltar no tempo e te dar um nascimento digno, foi tudo tão frígido, se eu fiquei com tanto medo imagino como você ficou né filha, que estava lá tranqüila e quentinha na barriga da mamãe... Espero que você saiba que eu sempre fiz o meu melhor, mas eu era uma criança ainda e não sabia de muitas coisas, desculpe!

Se passam 4 anos e a danada da menstruação resolveu atrasar, eu já senti que estava grávida, falei pro Leandro, que me mandou parar de ser boba porque com certeza não era nada, passaram mais uns 10 dias, ele topou fazer o exame, que é claro, deu positivo, nenhum surpresa pra mamãe. Ficamos animados apesar de não estarmos planejando aumentar a família, era um momento nada bom financeiramente, mas depois de primeira experiência aprendi que pra tudo agente da um jeitinho, comecei o pré natal no SUS e resolvi me informar mais dessa vez, comecei a ler sobre gestação, partos, até que de algum jeito cheguei no mundo da humanização, me encantei com os relatos que fui encontrando, assisti O Renascimento do Parto, descobri que parir não era aquilo que eu tinha passado, que aquilo tudo tinha sido violência obstétrica, que me arrancaram minha filha e não estava na hora dela ainda! 

Jessica, diva parideira, e Ellie aproveitando
 ao máximo a vidana barriga da mamãe!

Eu queria muito parir, sentir o que era uma contração natural, eu precisava sentir o nascimento dela, precisava sentir a vida e não tinha dúvidas de que era capaz disso, queria que minha filha fosse recebida no mundo com todo amor que merecia, queria que ela soubesse o quanto é amada e que a mamãe esta aqui, desde o começo, pra dar amor, carinho, colo e proteção. Eu sabia também que apesar de querer tudo isso, não bastava querer, eu tinha que correr atrás e me informar muuuuito. A idéia de um parto domiciliar me agradou muito, mas apesar de não ser tão caro quanto eu esperava, eu não poderia pagar no momento!

Passei alguns meses pesquisando, encontrei uma doula, mas não era ela a pessoa certa pra em acompanhar nessa jornada. Continuei minha busca, até que um dia conheci uma fada, ela me chamou pra ir num grupo de gestantes pra conversar um pouco, eu me encantei, ela era maravilhosa, era ela quem eu precisava pra me acompanhar nisso, e aí bateu aquela tristeza pois não teria como pagar, mas como eu disse ela é uma fada e me ajudou desde o começo a realizar meu sonho, minha querida doula e amiga Raquel se ofereceu para me acompanhar voluntariamente, nunca terei palavras pra agradecer por toda ajuda que me deu. 

Decidi que ia parir na Casa de Parto Sapopemba, Raquel me ajudou a desenvolver meu plano de parto e eu estava pronta, de corpo e alma eu sabia que era capaz. Então foi só esperara hora da Ellie, conforme a DPP foi se aproximando a ansiedade foi batendo, queria minha menina em meus braços! 
Escrevi uma carta pras minhas meninas, chorei diversas vezes por saber que quando a Ellie nascesse a Sophi não seria mais meu único bebe, que minha atenção não seria só dela, mas a Sophi é tão maravilhosa que sempre me mostrava que estava pronta pra isso, conversava com a barriga todos os dias, cantava musicas pra irmã... Passamos alguns dias na praia na casa da minha mãe pra relaxar um pouco, deixar meu corpo se preparar, comecei a sentir contrações de treinamento com mais freqüência. A cada dia que passava ficava mais introspectiva, só queria meu marido e filha perto de mim.

Dia 22/02 a Raquel passou em casa e deixou a bola de pilates, velinhas e varias outras coisas pra eu ir me preparando, sabíamos que estava chegando a hora, a Ellie estava me mandando os sinais. Dia 24 as contrações estavam ficando mais ritmadas mas ainda não muito doloridas, Raquel e minha mãe vieram pra minha casa, parecia que o TP estava começando, será?! As horas foram passando e as contrações não paravam, minha mãe levou a Sophi pra casa dela, Raquel ficou comigo, fomos caminhar e bater um papo delicia, as contrações ficando mais próximas, voltamos pra casa quase meia noite, resolvi tomar um banho e descansar um pouco e ai as contrações simplesmente pararam. No dia seguinte tive consulta pela manhã, tinha 3 ou 4 de dilatação, mas não estava sentindo nada, Raquel foi pra casa descansar e eu passei um dia super tranqüilo com o marido, durante o dia tive varias contrações beeeem mais doloridas, mas a noite pararam de novo!

Dia 26, no dia que completei 41 semanas, as 5h da manhã acordei com uma dor do caceeeete, sério, foi um susto, doía demais, contei o intervalo entre as contrações e já estavam de 5 em 5 minutos as vezes menos, avisei a Raquel e o Leandro, que não queria acordar, eu gemendo de dor na bola e ele pedindo pra eu ficar quieta pra eu poder dormir mais um pouco, queria matar o infeliz! Hahahhah

Depois de um tempo o Leandro levantou, tomou um banho, fez seu café, tudo na maior tranqüilidade, nesse ponto eu já não conseguia mais contar o intervalo entre as contrações, não tinha mais posição confortável, passei de gemer pra urrar de dor, queria desistir, que historia de parto humanizado é essa que eu fui inventar?! Alguém me ajudaaaa! Hahahahah

O cheiro do café me invadia, o Leandro me ajudou fazendo massagens e eu fui aprendendo a lidar com a dor. Raquel chegou em casa, não tenho idéia de que horas era, acabei perdendo muito a noção do tempo, as contrações estavam muito próximas, eu queria uns minutos pra respirar, pra descansar, mas não dava... As mãos da Raquel pareciam mesmo anestesia, aquelas massagens foram dos deuses! Acho que eu não conseguia falar com eles, só chamar seus nomes quando vinham as contrações e um deles não estava por perto, queria chorar, mas nem isso eu conseguia! O Leandro me deu muita força, seu toque foi maravilhoso, ele não precisou dizer nada, alias ninguém precisou, tudo estava fluindo naturalmente, o gosto do café na boca dele estava maravilhoso!
Acho que começaram a falar de ir pra casa de parto mas eu não queria ir, estava tão bom ali, tentaram me vestir mas sem sucesso, tentei me levantar pra ir logo pro carro mas acabei de jogando no chão no meio de uma contração, não queria sair dali de jeito nenhum e aí senti o primeiro puxo, uma felicidade me invadiu, minha filha estava chegando! Percebi que estava próximo da hora de nascer e então fui logo pro carro.

Fiquei de joelhos de banco de trás, não pensei no porque, ou o que seria mais confortável, só deixei meu corpo fazer o que achava melhor. E a cada puxo vinha aquela imensa vontade de fazer força, minha pequena estava tão próxima, conseguia sentir ela subindo de descendo, já não sentia mais dor alguma, era só prazer, emoção, espero não esquecer aquela sensação nunca, foi bom demais! Veio o circulo de fogo e eu avisei a Raquel e logo eu já conseguia sentir sua cabeça na minha mão, era como se não houvesse nada nem ninguém a nossa volta, era só eu e ela, ela estava vindo pra mim, em um dos puxos veio sua cabecinha, Raquel me ajudou a mudar de posição e no próximo puxo a bolsa estourou, foi água pra todo lado e seu corpinho escorregou, Raquel a amparou e me entregou, e la estava ela, tão pequena, tão perfeita, tão linda! “Não chora pequena, a mamãe esta aqui, eu te amo!” 
Que pele gostosa, que cheirinho bom... 

Minha Ellie chegou no seu tempo, era exatamente 7:36h, sim tudo isso aconteceu em só 2 horas e meia, o Leandro nos levou até o HMU, o hospital plano B, pois a casa de parto ainda estava muito longe, no hospital tudo correu bem, não tiraram ela de pertinho de mim nem um minuto, deixaram ela mamar bastante no meu colinho, respeitaram as minhas vontades.

Agora todos me perguntam como foi parir no carro, na verdade acho que nem me dei conta de que estava no carro, podia estar em qualquer lugar, não importa, quando minha filha decidiu que era hora de nascer ela veio, e eu estava longe demais pra perceber balanço do carro, transito ou gente olhando, só tinha eu e ela, minha Ellie, obrigada filha, por me dar a melhor experiência da minha vida, sabia que parir podia ser diferente, mas não sabia que podia ser tão gostoso, já queria de novo!"